por TwisteR em Domingo 27-02-2005 0:07
Venho dar o meu parecer sobre este assunto...
Realmente, a DPL/BPL (digital power line, ou broadband power line, respectivamente), é uma tecnologia que existe à coisa de 6 ou 7 anos, e que nos laboratórios sempre foi a melhor coisa do mundo (a seguir ao mozarella), mas no mundo lá fora sempre se mostrou uma treta...
Para quem não sabe, a BPL baseia-se no mesmo principio da ADSL.
Temos uma frequência fundamental, que é usada como fundamento primário para a existência da tecnologia. No caso de telefone, são os sinais de voz, até coisa de 4KHz, e no caso de electricidade, estamos a falar de sinais até coisa de poucas centenas de Hz. Isto porque interessa-nos não só a frequência fundamental do sinal, mas como as primeiras harmónicas do mesmo, a fim de manter a qualidade. Ou seja, os primeiros múltiplos da frequência. Como a electricidade "voa" nos 50Hz, somos capazes de ver sinais elécticos até coisa de 150Hz (2ª harmónica).
O mesmo se passa com o telefone, e é o melhor exemplo para explicar como isto tudo se processa.
Os sinais de voz vão dos 0 aos 4KHz, devidamente modulados e filtrados, não havendo sinais de voz fora destas frequências.
A banda de upstream de ADSL (e falando no sistema de ADSL por FDM, frequency division multiplexing) situa-se entre os 25 e os 138KHz, devido à sua fraca necessidade de largura de banda.
Já o downstream vai dos 0.2 aos 1.1MHz.
Para os sistemas interpretarem o que vai no cabo, pois como se constata, viajam muitos sinais no mesmo meio, são usados filtros locais que anulam tudo o que não é desejado.
Havendo o limite de 8Mbps para os sistemas ADSL (os mais vulgares e certificados), não há uma largura de banda, em termos de frequência muito grande...
O que se passa com o BPL é algo semelhante.
Antes de mais, os sinais têm amplitudes muito superiores. Enquanto os sinais telefónicos viajam a menos de 54v, os de electricidade viajam a pelo menos 230v.
O problema disto é que como os sinais nas frequências mais baixas (as de electricidade) são muito fortes, interferem com os sinais de frequência elevada, destinados a dados. Aí encontra-se a primeira limitação de BPL: alcance!
Não sei como está a coisa, mas os últimos whitepapers falavam em distâncias máximas na ordem de 750m a partir ddo "feedpoint".
Ou seja, o problema do acesso "last-mile" não fica resolvido, pois a ADSL ainda assim vai aos 6km.
Como se não bastasse, a largura de banda vai para as dezenas de megabits. Em frequência, quer dizer que vai bem acima de 1.1Mhz (comparativamente á adsl).
Não tenho à mão os valores espectrais de BPL, mas assumindo que vai fácilmente a 4MHz, e que as linhas eléctricas são inevitávelmente aéreas (não há nem 1/3 de linhas telefónicas aéreas, fáce ás eléctricas), e que as tensões são muito superiores, então isto significa que os cabos eléctricos deixam de ser condutores para serem autênticas antenas! Este é o segundo problema de BPL: interferências!
O BPL anula todo o tipo de comunicações entre os 3 quase 70MHz. Para quem não sabe, essas frequências são usadas por rádioamadores para fazerem contactos a nível mundial, por difusoras de rádio em onda curta, e por serviços de telegrafia e telex, onde incluimos serviços de bombeiros, etc...
E para isso não há solução!
Em suma, a BPL nem no papel funciona, e isso ser legalizado é um milagre. Não resolve os problemas de last-mile (como é o caso das aldeias), é perigoso e não compensa em termos de velocidade/fiabilidade/viabilidade.
Melhores cumprimentos,
Afonso
TwisteR